segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dois poemas sobre saprofagia

O primeiro de um conhecido poeta, o segundo de um futuro conhecido poeta.



Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.


Profundíssimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

Augusto dos Anjos


e...


Verdades


Os ratos roem

Os ácidos corroem

Os besouros cocô roem

As águas sanitárias cocô corroem

As Mercedes correm

E minha vida também.

Erick Santos